Desejo mimético é um daqueles assuntos que depois que você entende do que se trata, não tem mais como “desver”.
Confesso que procrastinei um pouquinho pra começar a escrever sobre isso porque gostaria de ter mais domínio do assunto. Mas sei que nunca vou me sentir pronto o suficiente, então lá vamos nós.
A ideia aqui não é trazer uma mega reflexão filosófica, antropológica ou sociológica sobre o tema. Como copywriter, vou te mostrar como os profissionais do marketing usam essa técnica pra fazer você gastar mais dinheiro.
“Beleza, Lucas! Então o que EU tenho a ver com o tal Desejo Mimético? Como ele pode me ajudar a melhores decisões de compra?”
Antes de te responder, deixa só eu te dar um pequeno contexto sobre o assunto:
Essa teoria foi criada e difundida pelo historiador e crítico literário René Girard. Não convém falar muito sobre ele nesse texto. O que você precisa saber é que ele era apaixonado nas relações humanas; e que não tirou a teoria do desejo mimético da cabeça dele. Ao dar aulas sobre literatura em universidades, ele observou que várias obras clássicas repetiam alguns padrões de estrutura, principalmente no que se refere aos desejos dos personagens dessas obras. E dessas observações, ele originou a ideia da teoria mimética.
Pra dar um exemplo claro de como ela funciona, voltemos aos tempos da escola, no ensino médio.
Vamos supor que o seu amigo começou a olhar uma das suas colegas de classe de um jeito “diferente”. Vocês todos estudaram juntos desde todo o fundamental e você nunca reparou nela.
Mas como num passe de mágica, você também começou a olhar aquela menina com outros olhos. Será que esse desejo surgiu do nada?
É evidente que não. Você só passou a “desejar” aquela mesma garota, porque seu amigo a desejou antes de você. Ou seja, você copiou (ou imitou) o seu amigo.
Um outro exemplo é quando você escolhe sua profissão por causa do seu pai ou seu professor. Eles podem ter plantado a ideia de que “tal profissão” é mais segura ou mais rentável do que outras. E você toma aquilo como verdade pra sua vida mesmo sem saber bem o porquê.
Veja, nossas vontades não são autônomas. Isso é uma mentira que contamos para nós mesmos. Como seres sociáveis, dependemos da imitação de outras pessoas para sobreviver. (É assim que aprendemos a falar)
O Desejo Mimético acontece quando nós passamos a desejar um objeto POR CAUSA de um modelo.
Como citei logo acima, alguns de nossos modelos mais comuns podem ser: nossos pais, nossos professores, nossos artistas favoritos. E com o advento da internet, uma nova categoria de modelos passou a inspirar os nossos desejos: os influenciadores de Instagram.
E na minha opinião, essa é a classe mais poderosa de modelos de toda a história.
Dependendo da distância do modelo, a relação do sujeito com ele pode se tornar uma relação de rivalidade. Exemplo, você nunca acreditaria que seu ator favorito ia querer as mesmas coisas que você. Ele esteva distante, como se vivesse num outro mundo, quase que mágico.
Já aqueles modelos mais próximos, como o colega de escola, podem sim, se tornar um rival. Naquele exemplo da garota é possível observar como isso é verdade.
Antes de falar sobre como funciona a dinâmica do desejo mimético no insta, você precisa saber que ser um “imitador” não é, necessariamente, uma coisa que só os perdedores são. Steve Jobs, considerado um dos homens que revolucionou o capitalismo, também tinha um modelo quando era mais jovem. O nome dele era Robert Fridland. Jobs o idolatrava porque ele era independente, contra as regras e parecia não ligar para o que os outros pensavam dele. Daí você começa a entender porque Steve não era muito chegado em banhos e gostava de andar descalço pelos corredores da Apple.
Veja, até um dos maiores gênios da humanidade tinha um modelo.
Surge uma Nova Era do Desejo Mimético: O Instagram.
As redes sociais, e principalmente o Instagram, transformaram a dinâmica do triângulo mimético.
Agora nossos modelos estão a um story de distância. Podemos simplesmente mandar uma DM para qualquer pessoa no mundo, inclusive para aquelas que, de alguma forma, nos influenciam a tomar decisões na vida.
Eu mesmo já experimentei falar com pessoas que eu nunca sonharia em ter algum tipo de contato, se não fosse o Instagram. E deu certo! E é aqui que mora o perigo.
Os modelos (ou influenciadores) nunca tiveram tanto poder quanto agora. Basta abrir o story, falar sobre um produto qualquer por 15 segundos e pronto! Rios de dinheiro jorram em suas contas bancárias.
O seguidor não consegue resistir. Ele PRECISA daquele objeto porque ele jura que vai se tornar igual à pessoa que ele segue. E se você acha que nunca foi “empurrado” dessa maneira, você está mentindo para si mesmo. Você pode até não comprar o produto na hora, mas vai passar a olhar para aquilo de forma diferente.
Só que esse ciclo é infinito até na produção de novos modelos. Porque não imitamos somente os hábitos de consumo de outras pessoas, mas também no jeito de ser. Cada nova influenciadora de 20 e poucos anos tem um pouco de uma atriz famosa em seu jeito de se vender.
E assim caminha a humanidade. Será que daqui uns anos vamos ter uma ferramenta que nos permita estar ainda mais próximos de nossos modelos? Acho que a realidade virtual está aí pra mostrar que isso será possível. Eu espero estar vivo pra ver isso acontecer. E você?
Que esse texto tenha esclarecido uma parte do que acontece no universo da influência. E que agora você saiba a origem dos seus desejos, ou melhor, por que você quer as coisas que você quer.
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